Publicado em: 15/12/2022

A desinformação é uma das mais sérias ameaças à saúde pública. As vacinas são uma das ferramentas mais eficazes para a defesa do organismo humano contra agentes infecciosos (virais e bacterianos). Elas vêm sendo desenvolvidas nos últimos 200 anos, permitindo salvar vidas e ajudando a eliminar doenças. Toda vacina licenciada para uso passou antes por diversas fases de avaliação de sua eficácia, assim como avaliação de institutos reguladores rígidos (Nacional de Vigilância Sanitária - Anvisa), garantindo sua segurança.

Graças à vacinação, houve uma queda drástica na incidência de doenças que costumavam matar milhares de pessoas todos os anos até a metade do século passado, como coqueluche, sarampo, poliomielite e rubéola. O objetivo das vacinas é estimular a produção de anticorpos para combater determinados agentes infecciosos. Dessa forma, o organismo desenvolve a resistência necessária para combater doenças e preservar a saúde do indivíduo. O organismo passa a produzir também células de memória, ou seja, células que, ao serem expostas novamente ao mesmo antígeno (contido na vacina), serão capazes de produzir anticorpos mais rapidamente. 

Quando uma pessoa decide não se vacinar, seu organismo fica suscetível à contaminação por diversas doenças. Caso haja essa contaminação, o indivíduo coloca todos a sua volta em risco, uma vez que a doença em questão volta a circular entre a comunidade. Nos últimos anos, as coberturas vacinais de rotina vêm caindo, e isso é preocupante!


Algumas doenças já erradicadas no Brasil estão voltando. A que se deve isto?

Sem sombra de dúvidas, a vacinação é uma das descobertas da medicina com sucesso esplendido, é a melhor maneira de se proteger de uma variedade de doenças graves e de suas complicações, que podem até levar à morte. Ela possibilita a erradicação e controle em massa de doenças transmissíveis. Esse sucesso, para uma pequena parte da população, causa a falsa sensação de que as doenças não existem mais e, portanto, que não há mais a necessidade de se tomar as vacinas. Desta maneira, doenças antes controladas voltam a ocorrer na população, inclusive com riscos de epidemia. 

A poliomielite é uma doença infectocontagiosa aguda causada pelo poliovírus selvagem responsável por diversas epidemias no Brasil e no mundo. O contágio dá-se por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes. Ela pode provocar desde sintomas como os de um resfriado comum a problemas graves no sistema nervoso, como paralisia irreversível, isso em questão de horas, e principalmente em crianças com menos de 5 anos de idade. Apesar da gravidade das sequelas provocadas pela poliomielite, o Brasil não cumpre, desde 2015, a meta de 95% do público-alvo vacinado, patamar necessário para que a população seja considerada protegida contra a doença. 

Com uma cobertura vacinal baixa aumenta-se e muito as chances do retorno do vírus ao país. Por exemplo, em fevereiro de 2022, as autoridades do Malawi, na África, declararam um surto de poliovírus selvagem tipo 1, após a doença ser detectada em uma criança de 3 anos, que sofreu paralisia flácida aguda, uma das sequelas mais graves da enfermidade, a qual, muitas vezes, não pode ser revertida. A nação africana não registrava casos de poliomielite desde 1992. Outro caso de poliomielite foi identificado em um subúrbio da cidade de Nova York e confirmado por autoridades de saúde no mês de julho de 2022.

Enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do planeta, há o risco de importação da doença. É um vírus perigoso e de alta transmissibilidade, mais transmissível do que o Sars-CoV-2, por exemplo. Estamos com sinal vermelho no Brasil por conta da baixa cobertura vacinal. Quando uma sociedade segue o calendário de vacinação de forma rigorosa, as doenças mais infecciosas são erradicadas, diminuindo a taxa de mortalidade que, embora não pareça, ainda hoje é alta em muitas regiões. 

Todos nós sabemos o que precisamos fazer para não termos mais a doença no Brasil. É inaceitável que crianças sofram por doenças que são evitáveis por vacinas, e vacinas tão antigas como a da poliomielite. Não deixe de vacinar seu filho, e caso esteja com alguma vacina atrasada, procure a Unidade Básica de Saúde ou uma clínica particular mais próxima para colocá-las em dia e manter seu filho seguro e protegido.


Dra. Lilian F. Shikasho

CRM-PR 35.111 | RQE 23.518

Pediatra


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